segunda-feira, 23 de maio de 2011

A soma de todas as representações

Uma pergunta ao tentar esclarecer um determinado conceito é se o seu significado corresponde à soma de todas as suas representações. Por exemplo, considerar que o significado de "elétron" corresponde à soma de todas as representações de "elétron" que existem. O sentido principal de uma representação é sua incompletude ao tentar perseguir o objeto. Por mais que o representante seja habilitado para desempenhar o processo de representação, sua função normativa nunca permitirá atingir a plenitude do representado.
Assim temos que a soma de todas as categorias possíveis para descrever ontologicamente o representado não estarão contidas no processo representacional, contudo mesmo com essa restrição devemos ser conduzidos ao reconhecimento do representado por meio da ação do representante (semiose). A diferença entre representante e representado não é somente uma diferença de atributos espaço-temporais, o representante é per si um ente categoricamente diferente.
Tudo isso pode parecer muito obvio, mas creio que esse é o ponto de partida de uma análise semiótica: a assunção da incompletude do representante. Assim, a soma de todas as representações pode estar em relação de equivalência com o conceito de "elétron", ou com seu significado, mas de maneira nenhuma será um elétron no sentido de que se pudéssemos reuni-las diríamos: veja! aqui está um elétron.

4 comentários:

  1. Breve histórico dos estudos de semiótica no Brasil
    No Brasil, primeiramente, desenvolveram-se estudos lingüísticos, cujo representante maior foi Joaquim Mattoso Câmara Jr. Sendo, assim, as idéias peirceanas são posteriores às saussureanas.
    A partir dos anos de 1970 do século passado, a PUC-SP começa a estudar, por meio do programa de pós-graduação em Teoria Literária ( atual PPG em Comunicação e Semiótica), os trabalhos do cientista e filósofo Charles Sanders Peirce, possibilitando tamanho prestígio acadêmico a essa universidade nos dias atuais. A interpretação da teoria dos Signos de Peirce dá-se nas aulas de Haroldo de Campos e Décio Pignatari, os primeiros professores do programa.
    O programa foi ampliado interdisciplinarmente, em 1978, sob a sigla COS (pós-graduação em Comunicação e Semiótica). A partir de 1992, surgem os Centros de Pesquisa, sendo o Centro de Estudos Peirceanos um deles, fundado em 1996 por Lúcia Santaella.
    LÚCIA,S. Estudos de Peirce no COS/PUCSP. In: LAURENTZ, S. (Org.) Cadernos da 1ª Jornada do Centro de Estudos Peirceanos. CENEP-COS/ PUC-SP. 1997.

    Roberto C. de S. Pereira

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  2. Há um texto de José Luiz Fiorin denominado Teoria dos Signos, onde podemos compreender conceitos linguisticos em uma abordagem bem simples. Nesse texto o autor nos dá exemplo de um trecho de Aventuras de Alice quando ao adentrar em uma floresta onde as coisas não têm nome, é incapaz de apreender o que elas são.Isso significa que a realidade só tem existência para os homens quando é nomeada.Os signos são assim, uma forma de apreender a realidade, "são etiquetas colocadas nas coisas". No período medieval, dizia-se que signo era aliquid pro aliquo, isto é, alguma coisa em lugar de outro, o que mostra que signo não é a realidade. Para Saussure, o signo linguistico não une o nome a uma coisa, mas um conceito a uma imagem acústica,é a união de um conceito com uma imagem acústica, que não é o som material, físico, mas a impressão psíquica dos sons, notável quando pensamos em uma palavra, mas não a falamos. Ao conceito Saussure denominou SIGNIFICADO e à imagem acústica SIGNIFICANTE, onde um não existe sem o outro, são inseparáveis.
    Para esclarecer o texto postado "A soma de todas as representações", pensemos em um exemplo próximo a nós:a palavra gato. Esse conceito dá conta de todas as suas representações? Gatos de várias raças, cores, tamanhos, ou a expresão comum quando queremos dizer que um "certo cara é um gato"? Claro que não!A língua abstrai tudo isso e leva em conta apenas a categoria de animal felino.Todas as tentativas em tentar representar um objeto nunca serão completas, mas um ponto de partida.
    Acredito que sobre o conceito de elétron é o que devemos compreender. Ao tentar representá-lo nunca daremos conta de sua totalidade, de seu significado ou conceito.
    "Filósofos e linguistas sempre concordaram em reconhecer que,sem os recursos dos signos seríamos incapazes de distinguir duas ideias de modo claro e constante. Tomando em si, o pensamento é como uma nebulosa onde nada há necessariamente DELIMITADO". (Saussure, F. Curso de Linguistica Geral, 1969, p.130)
    Abs,
    Rosane.

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  3. A soma de todas as representações é uma tentativa de facilitar a compreensão sobre algo, mas que mesmo assim, não o representa em sua plenitude. Isso me reporta a Edgar Morin quando discute a ideia do "simples e do complexo", onde o simples seria cada uma das diferentes representações e o complexo seria a representação como um todo. No entanto, vale considerar que nenhuma representação é neutra e quando nos propomos a representar algo, estamos envolvendo a nossa representação com tudo o que trazemos de cultura, conhecimento, interesse e ideologia. Se considerarmos nesse contexto, não há uma representação fiel do que quer que seja, mas sim do que precisa ser visto, conhecido, aprendido e multiplicado em um dado momento histórico, o que nos permite inferir que a representação também é dinâmica e que por isso não há uma representação única e que nem a soma de todas as representações é capaz de representar algo; sendo assim a representação também apresenta-se como objeto de poder.

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  4. As representações são tentativas de se alcançar o objeto em toda a sua complexidade ontológica. Mesmo que a soma de todas as representações não alcancem o objeto em si, é uma tentativa dentro da possibilidade de construção humana, de ao menos, aproximar-se dele. Logo a incompletude, dentro de nossas limitações é, e sempre será esperada, simplesmente porque a representação não é o objeto.

    Se imaginarmos a ciência e seus modelos para explicações dos fenômenos naturais, é uma boa maneira de entendermos a incompletude das representações, pois que o modelo nunca será o fenômeno tal qual a representação não é o objeto.

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