sábado, 18 de junho de 2011

Educação sim, utopia não!

Acredito que papel da educação ambiental é o de colaborar para compreensão do mundo e de suas freqüentes mudanças, colocando o homem não mais como centro, mas como parte que integra o universo. A finalidade educativa em utilizar várias tipologias de conteúdos delineia-se pela compreensão de que a aprendizagem se dá, ora pelo domínio de fatos, conceitos e princípios, ora pelo domínio ou construção de novos procedimentos e atitudes, em alguns casos, por todos simultaneamente. Como a função social que a sociedade atualmente atribui ao ensino é contribuir com a formação de um ser uno, o conteúdo ambiental deverá assumir o papel de formação global do educando, contemplando as várias dimensões necessárias para construção de várias capacidades da pessoa. A Escola deve valorizar as diferenças e investir na formação de pessoas autônomas, sujeitas do processo de construção do conhecimento e de transformação social. Educadores Ambientais, como bem menciona Sacristán (2000) precisam compreender o livre arbítrio que possuem no processo de decisão de conteúdos da educação e que os currículos são opção tomada por quem pode fazê-los dentro do que ele chama “equilíbrio de forças sociais”. Considerando que a Escola é um aparelho político que possui uma intencionalidade sobre: o que ensinar, e para que ensinar é preciso que defina com clareza qual o sentido do que é ensinado aos seus alunos. Qual o valor dos conteúdos da educação ambiental (assim definindo todo processo de formação das pessoas) que são trabalhados em instituições educativas? Em que medida que os alunos podem alterar suas relações consigo, com o outro e com o meio social?

Gadotti (2000) faz um significativo depoimento relativo aos conteúdos de Educação Ambiental, vivenciados em sua trajetória escolar e aos não vivenciados, que permite profunda reflexão sobre a prática educativa e sobre que questões a Educação Ambiental tem se ocupado.

“Na Escola, eu tinha visto a Terra tão diferente. Aprendemos que é um dos nove planetas que giram em torno do Sol [...], aprendemos que ela parece azul porque os oceanos, mares e lagos ocupam sete décimos de sua superfície e que está coberta de redemoinhos brancos que são nuvens e que podem formar os chamados furacões. O planeta normalmente parece manso. Em sua superfície existem lindas paisagens, umas regiões são mais quentes do que outras [...] A maioria das pessoas vive nas planícies, principalmente nas mais férteis. O homem transformou essa paisagem construindo enormes conglomerados de casas e edifícios - as cidades – e aprendeu a cultivar o solo e a construir estradas. Pelo que sabemos, é o único planeta em que existe vida. [...] Os homens e as mulheres que habitam esse planeta são um sucesso. Construíram máquinas de todos os tipos para terra, água e ar” (GADOTTI, 2000, p. 11).

Em seu depoimento, o mesmo autor continua afirmando:

“Pouco me falaram, de como a Terra foi dominada, submetida, escravizada, dividida em países com imensas e terríveis fronteiras. Não me falaram de um planeta despedaçado, mutilado e estéril pela lógica de um sistema de produção que não vê a natureza como parte de nós e que pouco se preocupa com sua destruição, cuidando apenas para que o paraíso daqueles que a comandam esteja garantido, como se, no limite, fosse possível “(GADOTTI, 2000, p.11)

“[...] Não me explicaram a relação entre as precárias condições de vida e a política econômica, industrial, ambiental: Isentaram-me de qualquer responsabilidade quanto ao esgoto a céu aberto, quanto ao lixo espalhado pelas ruas perto de casa e da escola, quanto às inúmeras transportadoras que foram se instalando no bairro onde eu vivia, com seus galpões enormes, construídos à custa de destruição de grandes áreas verdes etc. Nunca tive na escola a oportunidade de plantar uma árvore, de colher os legumes de uma horta, de chupar deliciosamente uma manga colhida do jardim da escola, de observar atentamente a beleza da joaninha. Ouvi, escrevi. Pouco senti. Vivenciei menos ainda”. (GADOTTI, 2000, p. 11).

Quando falamos em Educação, e no caso da Educação Ambiental, devemos refletir sobre o que se pretende trabalhar com o aluno, o modo que se deve abordar tal conteúdo e principalmente que significado esses conteúdos terão para o alunado. A educação deve ter sentido, ter aplicação nas vidas e, sobretudo, partir de vivências e não de utopias

2 comentários:

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    1. Concordo plenamente com o exposto, sobre partir de vivências e não de utopias para a promoção da Educação Ambiental, no entanto, ressalto a dificuldade do trabalho do professor na escola pública, uma vez que o mesmo tem se resumido a reciclagem e a ações pontuais, não a reflexões críticas e que de alguma forma possam ir além da "conscientização" simples. Em parte isso se deve a falta de subsídios disponíveis para o desenvolvimento de práticas reflexivas além da sala de aula (Recursos, transportes para ida a locais de ensino não-formal) e também a falta de investimento na formação docente.

      Lis

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