A valorização da reciclagem de resíduos no Brasil levou
algumas indústrias a inserirem ícones que sugerem o potencial reciclável dos
materiais em seus produtos e embalagens. Indústrias de vidro, plástico, papel/papelão,
alumínio e aço desenvolveram signos padronizados para cada material, em
parceria com o CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem, entidade
voltada para o incentivo da reciclagem no país.
Este código facilitaria a identificação e separação dos
materiais para reciclagem, ajudando "a
criar uma consciência ecológica nas pessoas, ao passarem a conviver com esses ícones". A intenção era de que tais signos não fossem "armas de venda" e nem uma garantia de "que o referido produto seja ecologicamente
correto ou mais reciclável que o do concorrente".
O que ocorre na verdade não é bem isso. Valendo-se da inexistência de programas
de orientação ao consumidor, que quase sempre não entende o real significado dos
referidos ícones, as indústrias se utilizam destes com caráter fortemente
mercadológico, contribuindo para uma "pseudo consciência" ecológica
baseada em alguns mitos.
Um primeiro mito é o da reciclagem
garantida, pois tais ícones não determinam que os materiais sejam efetivamente
reciclados, mas apenas indicam que os materiais são potencialmente (e tecnicamente) recicláveis.
Na
Holanda, por exemplo, a rotulagem tem maior credibilidade, e os ícones só
podem ser usados se houver coleta e destinação disponíveis para o público
"alvo" dos mesmos.
Outro mito é o relacionado a uma
possível “reciclagem infinita”, com ícones que sugerem um ciclo fechado, perfeito, como se uma caixa de
papelão descartada, por exemplo, pudesse se transformar em outra, e esta em
outra, eternamente.
Mesmo com os avanços rumo à utilização parcial de PET (Politereftalato de etileno) reciclado em garrafas, a
produção de novas garrafas continua dependendo da exploração de sua matéria-prima
base, o petróleo. Nesta situação, portanto, o ícone do ciclo fechado estaria
iludindo o consumidor. Puro engôdo!
Por fim, há o mito da embalagem
ecológica, baseado no fato de que as embalagens descartáveis são apresentadas
como modernas e práticas, uma tendência do mercado, inclusive internacional. O
consumidor, portanto, (des)orientado pela propaganda e induzido pelos signos da reciclagem, passa a comprar embalagens descartáveis achando que está,
necessariamente, ajudando a preservar o ambiente.
Desta forma, os ícones da reciclagem
inseridos em produtos e embalagens, supostamente com o intuito de facilitar a
identificação e separação de materiais/resíduos e, em última análise, diminuir
o volume de lixo destinado a aterros e lixões, têm causado o efeito oposto.
Para “alívio de consciência” do consumidor, e como apelo mercadológico para o
produtor, os ícones vêm incentivando a descartabilidade, legitimando o
desperdício e aumentando a quantidade de lixo gerado nas cidades.
A rotulagem de natureza ambiental pode, sim, se constituir em uma informação
útil, mas desde que acompanhada de um programa de orientação ao consumidor e de
coleta seletiva e recuperação de materiais realmente eficientes. Há que se esclarecer o significado
e as reais intenções por trás do uso de signos da reciclagem, para que a
população faça suas escolhas de consumo de forma mais responsável e menos
utópica.
Fonte:
Revista
digital Água on Line (http://www.aguaonline.com.br)
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