segunda-feira, 3 de junho de 2013

Signos de reciclagem em embalagens: um tiro que saiu pela culatra

A valorização da reciclagem de resíduos no Brasil levou algumas indústrias a inserirem ícones que sugerem o potencial reciclável dos materiais em seus produtos e embalagens. Indústrias de vidro, plástico, papel/papelão, alumínio e aço desenvolveram signos padronizados para cada material, em parceria com o CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem, entidade voltada para o incentivo da reciclagem no país.
Este código facilitaria a identificação e separação dos materiais para reciclagem, ajudando "a criar uma consciência ecológica nas pessoas, ao passarem a conviver com esses ícones". A intenção era de que tais signos não fossem "armas de venda" e nem uma garantia de "que o referido produto seja ecologicamente correto ou mais reciclável que o do concorrente".
O que ocorre na verdade não é bem isso. Valendo-se da inexistência de programas de orientação ao consumidor, que quase sempre não entende o real significado dos referidos ícones, as indústrias se utilizam destes com caráter fortemente mercadológico, contribuindo para uma "pseudo consciência" ecológica baseada em alguns mitos.
Um primeiro mito é o da reciclagem garantida, pois tais ícones não determinam que os materiais sejam efetivamente reciclados, mas apenas indicam que os materiais são potencialmente (e tecnicamente) recicláveis.
Na Holanda, por exemplo, a rotulagem tem maior credibilidade, e os ícones só podem ser usados se houver coleta e destinação disponíveis para o público "alvo" dos mesmos.
Outro mito é o relacionado a uma possível “reciclagem infinita”, com ícones que sugerem um ciclo fechado, perfeito, como se uma caixa de papelão descartada, por exemplo, pudesse se transformar em outra, e esta em outra, eternamente.
Mesmo com os avanços rumo à utilização parcial de PET (Politereftalato de etileno) reciclado em garrafas, a produção de novas garrafas continua dependendo da exploração de sua matéria-prima base, o petróleo. Nesta situação, portanto, o ícone do ciclo fechado estaria iludindo o consumidor. Puro engôdo!
Por fim, há o mito da embalagem ecológica, baseado no fato de que as embalagens descartáveis são apresentadas como modernas e práticas, uma tendência do mercado, inclusive internacional. O consumidor, portanto, (des)orientado pela propaganda e induzido pelos signos da reciclagem, passa a comprar embalagens descartáveis achando que está, necessariamente, ajudando a preservar o ambiente.
Desta forma, os ícones da reciclagem inseridos em produtos e embalagens, supostamente com o intuito de facilitar a identificação e separação de materiais/resíduos e, em última análise, diminuir o volume de lixo destinado a aterros e lixões, têm causado o efeito oposto. Para “alívio de consciência” do consumidor, e como apelo mercadológico para o produtor, os ícones vêm incentivando a descartabilidade, legitimando o desperdício e aumentando a quantidade de lixo gerado nas cidades.
A rotulagem de natureza ambiental pode, sim, se constituir em uma informação útil, mas desde que acompanhada de um programa de orientação ao consumidor e de coleta seletiva e recuperação de materiais realmente eficientes. Há que se esclarecer o significado e as reais intenções por trás do uso de signos da reciclagem, para que a população faça suas escolhas de consumo de forma mais responsável e menos utópica.
Fonte:
Revista digital Água on Line (http://www.aguaonline.com.br)


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