Este post é continuação da postagem REPRESENTAÇÃO:
UMA FERRAMENTA (TAMBÉM) QUÍMICA. Caso não o tenha lido, considero interessante que o faça antes de adentrar neste bate-papo.
Enquanto eu ensinava
os modelos atômicos e a menina Júlia me perguntou se aquilo realmente existia,
imediatamente me lembrei do livro “Alfabetização Científica”, de Attico Chassot.
Apropriei-me de seus ensinamentos expostos no capítulo 12 da 4ª edição: “Procurando
fazer imagens de um mundo quase imaginário”. Pedi a um aluno que me ajudasse a
criar um modelo de um lápis para uma pessoa que nunca tinha visto esse objeto.
O aluno utilizou o quadro branco e a caneta de quadro para fazer um desenho e
explicou seu modelo. A turma, é claro, ainda não tinha entendido onde eu queria
chegar. Pedi a outro aluno que fizesse, de forma detalhada, o modelo de uma
lapiseira. A brincadeira começou a ficar engraçada! O aluno não fez um modelo
tão inteligível para alguém que nunca tinha visto uma lapiseira, mas deu pra
rirmos bastante.
Outro aluno
foi para o quadro fazer o modelo de uma TV. A partir de indagações minhas, o
modelo ficou muito bom, inclusive com botões on/off, para ajuste de volume, troca de canal e menu. Até o controle remoto apareceu!
Perguntei à turma, então, se com aquele modelo seria possível que o
interlocutor trocasse alguma placa defeituosa daquela TV. A turma começou a rir
e disse que não. Pedi, então, que alguém ajustasse o modelo de forma que fosse
possível. Brincadeiras à parte, ninguém se propôs a fazê-lo, pois não sabiam, assim
como o professor que vos escreve. Disse a eles, então, que um modelo de algo é
tão mais representativo da realidade quanto mais seu criador a conhece. Nós
conhecemos muito bem uma TV, por fora.
Chegou a minha
vez de entrar na brincadeira. Eu disse que iria verbalizar um modelo que
explicasse o funcionamento das máquinas de servir refrigerantes. Sugeri que dentro da máquina existe um anão
que, ao receber a moeda, libera o refrigerante. A turma concordou que, para
alguém que nunca tinha visto algo como aquela máquina, o modelo era bom. Sugeri
um teste (e lembrei que os modelos são sempre submetidos a testes). Deixo a
máquina desligada e coloco a moeda: a máquina não serve o refrigerante. E aí?
Os alunos dizem que o modelo passa a estar falho. Digo que não. Na verdade, com
a máquina desligada, suas luzes se apagam e, na escuridão, o anão não vê a moeda
entrar. Por isso não libera a bebida. Eles concordam. Sugeri, então, que a máquina
ficaria desligada por 3h. Religo a máquina, insiro a moeda e ela não serve o
refrigerante imediatamente, só após algumas horas. Digo que o modelo ainda é
bom. O anão, 3h no escuro, acabou dormindo. Depois de algumas horas, com a luz
acesa e o barulho da máquina, ele acaba acordando e libera o refrigerante (na
verdade a máquina só libera a bebida abaixo de certa temperatura). Último teste:
deixemos a máquina desligada e lacrada por dois meses. Ao religarmos, depois de
um tempo, a máquina serve o refrigerante. Concluímos, então, que o modelo do anão
já não servia mais, pois o anão não teria resistido dois meses preso na máquina
sem pelo menos ter bebido todo o refrigerante.
Chassot
comenta que “(...) quando se fala em átomos, moléculas, reações químicas, etc.,
estamos nos referindo a realidades sobre as quais não conhecemos mais do que o
resultado de algumas interações. Por isso, construímos modelos das mesmas, que
são mais ou menos aproximados, em função do que conhecemos do modelado. Os
modelos são importantes ferramentas de que dispomos para tentar compreender um
mundo cujo acesso real é muito difícil.” Relato, então, que os modelos atômicos
foram sendo aperfeiçoados de maneira parecida com a brincadeira que fizemos. E
que o modelo que se usa hoje, que já está há muitos anos aceito como correto,
representa bem a realidade menor que nanométrica da matéria. E aí lembro da
nanotecnologia, mas essa já é uma discussão para outra postagem.
Fonte da imagem:
http://norwoodfisher.blogspot.com.br/2011/09/infografico-maquina-de-refrigerante.html
Acessada em 31/05/2012
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei muito da sua aula! Sou professora de química da rede pública e sei, inclusive dentro da universidade, que é comum confundir os modelos científico com a coisa real. É preciso buscar práticas pedagógicas que contribuam para que os conteúdos de química ganhem significado para os alunos evitando as distorções que são muito comuns. Vou utilizar sua aula. Obrigada por compartilhar.
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