quinta-feira, 7 de junho de 2012

Artigo "Do Ecodesenvolvimento ao Desenvolvimento Sustentável: a evolução de um conceito?" (Comentários)


Layrargues (1997) faz uma crítica ao termo Desenvolvimento Sustentável (DS) como substituto do termo Ecodesenvolvimento (criado por Maurice Strong e ampliado por Ignacy Sachs).
O Ecodesenvolvimento (EcoD) seria sinônimo de eficiência econômica, porém atrelada a uma justiça ambiental e prudência ecológica. Tais princípios poderiam ser aplicados por meio de uma política solidária de cooperação na solução de problemas ambientais. Ou seja, estava diretamente relacionado com o conhecimento e reconhecimento da pluralidade cultural, dos ecossistemas e das diferentes matrizes tecnológicas. E, o mais importante, era desprendido das tecnologias como salvadoras dos problemas ambientais e propunha um limite ao avassalador mercado livre.
Utilizo o adjetivo avassalador, pois a adjetivação livre não condiz com o mercado instaurado pela globalização. Talvez até seja minimamente livre pra alguns, mas para a grande maioria dos povos ele se constitui de uma ferramenta avassaladora (vide a cena do filme “Encontro com Milton Santos”, na qual pessoas de baixa renda vão ao shopping e encontram mercadorias belíssimas e a preços absurdamente distantes de sua realidade).
Este mercado, então, na voz da ONU, sugeriu a mudança do termo Ecodesenvolvimento pela falácia atual: Desenvolvimento Sustentável. Um grande diferencial deste termo em relação ao primeiro é a transferência da responsabilidade ambiental para cada indivíduo. Em termos de oratória, torna-se um discurso démodé, mas bem bonito: se cada um fizer a sua parte, o todo alcançará melhoria significativa. Fato. Porém, os impactos ambientais não são causados de maneira igualitária por cada indivíduo da população mundial. Muito pelo contrário. São as grandes indústrias/empresas, o agronegócio, etc. que mais consomem água no mundo, por exemplo. Grandes empresas/empresários e as indústrias diversas devem ter grandes responsabilidades sociais e ambientais. Não pode ser a mesma que a do cidadão que nem acesso à água e energia elétrica possui.

Ambos os termos (DS e EcoD) pregam solidariedade diacrônica (com as gerações futuras). O problema a forma como cada um se propõe a fazê-lo. Percebe-se hoje, com a busca pelo DS, que o futuro é o futuro. Nunca chegará. Por que não nos preocupamos em corrigir nossos ataques ao ecossistema hoje, para termos um amanhã melhor? Na verdade a preocupação é explorar ao máximo hoje. O amanhã não importa.
Outro pilar do termo criticado é a crença na tecnologia como solução para os problemas ambientais. Se hoje investirmos cada vez mais em tecnologias, teremos uma ciência capaz de solucionar nossos ataques à natureza. Quem sabe ela até pára de contra-atacar.
Ou seja, Layrargues (e também o proponente deste post) credita os problemas ambientais aos detentores de poder de consumo, de recursos e grandes propriedades. Os pobres não são igualmente vilões nesse ataque à natureza.
O Desenvolvimento Sustentável preza pelo desenvolvimento acima de tudo e utiliza a adjetivação sustentável como escudo para proteção das críticas. Ou seja, a ideia é que “todos” tenham acesso aos bens de consumo, às novas tecnologias, à energia... ou seja: é a lógica (ou ilógica) capitalista.
            Portanto, conclui-se que na verdade a questão ambiental também é uma questão política. Não foi por mera questão linguística que as grandes nações optaram pela substituição do termo Ecodesenvolvimento pelo Desenvolvimento Sustentável. Foi uma estratégia muito bem elaborada (e até abraçada por ambientalistas – por ignorância ou por interesse) com intuito de manutenção de um sistema: o capitalismo como ele é, visto pelo lado de cá (analogia ao documentário “Encontro com Milton Santos”).
 
Referências:
LAYRARGUES, P. P. . DO ECODESENVOLVIMENTO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO?. Proposta, Rio de Janeiro, v. 24, n. 71, p. 1-5, 1997.
 
Charge: http://marlivieira.blogspot.com.br/2010/09/charges-sustentabilidade-e.html (acessado em 07/06/2012) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário